Orei

Vamos falar sobre educação, comunicação e juventude

Aos 17 anos, além de estudante regular de ensino médio, tornei-me educador. Ao lado de outros três secundaristas (os únicos) do povoado Cavada, em Barra do Choça, na Bahia, onde nasci, competi por uma vaga em um programa que recrutava professores para dar aulas de alfabetização para jovens e adultos.

O ano era 2004. Selecionado, encarei o desafio de ensinar o ABC em um galpão improvisado, a três quilômetros de minha casa, em outro povoado vizinho, igualmente inóspito.
No início do ano seguinte, fui contratado pela Prefeitura de Barra do Choça. Dessa vez, daria aulas na Escola Municipal Rui Barbosa, praticamemente defronte à minha casa.

Ao contrário da primeira turma, essa era maior, com estudantes do antigo ensino primário. Jovens de 14 a idosos 75 anos. Muitos deles, embora tivessem arrastado enxadas no solo fértil da “Terra do Café”, não possuíam habilidade para manusear, entre os dedos calejados, um lápis ou uma caneta.

Alguns deles, conheciam o alfabeto; outros já até dominavam operações matemáticas como fração e porcentagem.

As três horas atrás do quadro-negro e em frente à turma multisseriada me exigia também ser um professor multisseriado — embora eu também fosse um adolescente que tampouco conhecia Paulo Freire e que se aventura, com gozo, na arte da docência.

Sem imaginar que um dia estaria sujando os dedos com giz, como professor, do outro lado, como estudante, passei por diferentes carteiras escolares: da sala de aula na zona rural baiana às classes em Paraisópolis, a favela mais populosa de São Paulo, para onde minha família mudou-se em 1995.

Desde minha infância, presenciei amigos e parentes desistirem de estudar por falta de investimentos em educação. Não havia transporte público na “roça” para trasladar os poucos estudantes que concluíam a quarta série do ensino fundamental. Já em São Paulo, estive nas estatísticas de estudantes não matriculados devido à escassez de vagas nas escolas públicas.
Anos mais tarde, me tornei estudante de jornalismo. A união entre Educação e Comunicação pareceu inevitável. Transitei por ONGs voltadas aos direitos humanos em educação, e fui repórter em veículos de comunicação dedicados à inovação em educação. Hoje, desenvolvo atividades educomunicativas no projeto Mural, voltado a estudantes de ensino médio de escolas públicas das periferias de São Paulo.

Mas, afinal de contas, para que toda essa descrição?

Além de me apresentar e dar meu primeiro “Oi”, dizer que, enquanto educador, jornalista e pesquisador, estou aqui para trazer e compartilhar reflexões sobre educação, comunicação e juventude.

Prazer, e até já!

Vagner de Alencar, jornalista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestre em Educação pela PUC-SP. Autor do livro “Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo” e co-fundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.

Iniciativa:

Oficina de la Campaña Latinoamericana por el Derecho a la Educación | Av. Prof. Alfonso Bovero, 430, conj. 10 – Perdizes, São Paulo, 01254-000, Brasil Tel. +55 11 3853-7900 | orei@campanaderechoeducacion.org

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