Orei

Fim da CPI: Mexeram sim na nossa merenda

“Ocupar e resistir! Ocupar e resistir! Ocupar e resistir!”. Essas duas palavrinhas, juntas, soaram, em coro, em 2015, como o hino e sinônimo do movimento de ocupação de escolas estaduais de São Paulo.

Os protestos, em forma de grito e, sobretudo, articulação, surgiram como forma de manifesto contra o processo de reorganização escolar que o governo do estado pretendia implementar. As vozes se fizeram ser ouvidas: o governador Geraldo Alckmin voltou atrás da decisão.

Era apenas o começo.

Já em janeiro de 2016, os estudantes secundaristas precisavam resolver e responder outra questão: “quem mexeu na minha merenda?”.

O motivo: a “merenda seca”, composta por biscoito e bebida, ou, em algumas escolas técnicas e estaduais, a inexistência de alimento.

Em maio, foi deflagrada a operação Alba Branca, que trouxe à tona a “máfia da merenda”, um esquema de fraude na compra de alimentos para a merenda escolar de prefeituras e do governo paulista. Um litro de suco de laranja, que não passava de R$ 3,70, era vendido por R$ 6,80. Na época, ligações telefônicas mostraram que os contratos foram superfaturados.

Novas ocupações e manifestações eclodiram em diferentes cidades do estado.

Em junho, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Merenda foi finalmente instaurada sob pressão dos estudantes, que ocuparam por três dias o plenário da Assembleia Legislativa. Manifestações, protestos e cobranças prosseguiram até o fim da comissão.

Dos nove deputados que compuseram a comissão, oito eram da base do governo. Um dos suspeitos de envolvimento na máfia foi o deputado Fernando Capezo, o próprio presidente da Assembleia Legislativa.

Com protestos mas sem investigações, seis meses depois, a conclusão da CPI: o relatório final apresentando no último dia 13 de dezembro considerou que houve fraudes, porém sem prejuízos ao Estado de São Paulo tampouco participação dos parlamentares.

Da assembleia para os muros da faculdade, um dia antes da decisão sobre a CPI, no auditório da faculdade FIAM FAAM, no Morumbi, zona sul da capital paulista, as jovens Caroline Pasternack e Mayara Trevisan falavam sobre as ocupações estudantis.

A dupla apresentava o webdocumentário “Quem mexeu na minha merenda?”, o trabalho de conclusão de curso em cuja banca  eu fazia parte como avaliador.

Oficialmente jornalistas, durante um ano, elas acompanharam a luta e história dos jovens, entrevistaram estudantes, professores e políticos com o propósito de mostrar que lutas como estas são imensamente necessárias e acontecerão cada vez mais.

A narrativa, alternativa e multimidiática, se debruça sobre as manifestações dos estudantes de São Paulo. E antes que questionem se esse assunto já não foi falado, elas retrucam: “Sim, já foi, mas pouco foi resolvido e pouco foi escutado. Histórias. Personagens. Lutas. Perseguições. Resistências”.

Em contraste a muitos veículos de comunicação, que, muitas vezes, não ampliam nem tampouco aprofunda o tema, segundo a dupla de jornalistas, “Quem mexeu na minha merenda?” soma esforços às mídias alternativas e coletivos que ampliam a cobertura diária do tema, dão voz àqueles que são silenciados e fornecem informação honesta e de qualidade.

O webdocumentário é dividido em: “o caso”, mostrando o que motivou as manifestações estudantis e os resultados conquistados na luta desde 2015; “a luta”, que apresenta os personagens que vivenciaram as ocupações — a partir de oito vídeos e quatro textos; e “opinião”, com dados de uma pesquisa que mostra o que a população pensa sobre as ocupações.

Como garantiram, o objetivo do trabalho foi ampliar o debate sobre o assunto por meio de uma narrativa jornalística de dentro para fora. E elas conseguiram. Enquanto a chamada grande mídia não dá a devida importância e amplitude aos temas de educação, iniciativas como essas se revelam como um sopro de esperança.

Para ver el documentario, cliquea aquí.

Vagner de Alencar, jornalista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestre em Educação pela PUC-SP. Autor do livro “Cidade do Paraíso – Há vida na maior favela de São Paulo” e co-fundador da Agência Mural de Jornalismo das Periferias.

Iniciativa:

Oficina de la Campaña Latinoamericana por el Derecho a la Educación | Av. Prof. Alfonso Bovero, 430, conj. 10 – Perdizes, São Paulo, 01254-000, Brasil Tel. +55 11 3853-7900 | orei@campanaderechoeducacion.org

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